Eletroconvulsoterapia: derrubar estigmas para salvar vidas

16 de Janeiro de 2024

Método evoluiu e traz resultados seguros para pacientes com depressão grave e resistentes a medicações

Ela já foi chamada de eletrochoque e muitos filmes e livros trazem o método como uma forma de punir ou torturar as pessoas. O estigma em torno da Eletroconvulsoterapia (ECT) é grande, mas, pode ser derrubado com esclarecimentos e com a própria evolução da medicina, que nos últimos anos fez com que o procedimento se tornasse seguro e muito eficaz para casos de depressão resistente, ou seja, quando não há respostas a dois ou mais tratamentos convencionais.

Com isso, pacientes que antes só enxergavam a possibilidade de internação ou mesmo aqueles que não melhorariam de outra forma agora têm acesso a um tratamento que transforma suas vidas e a de seus familiares no Brasil e no mundo.

Por que a ECT faz a diferença

Segundo o Prof. Dr. Lucas Spanemberg, psiquiatra e coordenador do ambulatório ECT no Hospital São Lucas, a eletroconvulsoterapia é bastante efetiva a pacientes com doenças como psicoses, depressões graves ou catatonia, que são refratários a outros tratamentos e acabam perdendo a esperança de serem curados. Em alguns casos, mesmo poucas sessões da ECT têm mostrado resultados impressionantes.

“Vimos aqui pacientes que já não conseguiam mais caminhar ou se alimentar e que saem da sessão caminhando. A estimulação direta no cérebro permite que tudo aquilo que estava de certa forma ‘desorganizado’ em termos de conexões cerebrais apresente uma melhora significativa, devolvendo ao paciente sua autonomia".

O especialista, que também é docente da Escola de Medicina da PUCRS, ressalta que a indicação do ECT é segura e que ainda há muitos estigmas a serem quebrados, o que ocorre com conhecimento e busca constante pelas atualizações científicas no campo. “O paciente é acompanhado em todo o processo por uma equipe multidisciplinar que abarca todos as etapas previstas, desde o anestésico até a pós-sessão. Tudo é explicado minuciosamente a ele mesmo e a familiares, o que traz segurança e a certeza de que esse está longe de ser um método de tortura e sim uma luz no fim do túnel a quem já não tem mais esperança de ser tratado".

Para ele, é preciso quebrar essa barreira também no próprio meio médico e nos órgãos de regulação. “Poderíamos salvar muitas outras vidas e dar a oportunidade de cura a muitos outros pacientes se os órgãos reguladores brasileiros compreendessem que este é sim um método seguro e eficaz de tratar a depressão e outras doenças que estão acabando com famílias inteiras por puro preconceito".

A ECT ainda não está no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) e, portanto, não é coberta pela maioria dos planos nem está prevista nos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar disso, alguns planos de saúde já estão autorizando o procedimento, pois entenderam que o procedimento traz resultados clínicos e econômicos, com respostas clínicas que diminuem internações, evitam idas a emergências e minimizam a chance de outros desfechos que podem deixar os pacientes em risco de morte.

Como funciona a sessão

O paciente que possui resistência a dois os mais tratamentos prévios faz uma consulta no ambulatório de psiquiatria do HSL, para uma avaliação completa de seu estado de saúde. Caso o psiquiatra constate que este é um caso de indicação de eletroconvulsoterapia, ele recebe a indicação de um primeiro curso de oito a doze sessões, que são realizadas no HSL com frequência máxima de três vezes na semana. É necessário sempre que o paciente realize uma avaliação pré-anestésica, para que o procedimento seja realizado com o padrão de segurança necessário.

Para a sessão, o paciente chega com jejum de oito horas e recebe uma punção venosa com a aplicação de medicamentos anestésicos e um relaxante muscular. O braço esquerdo, no entanto, recebe um bloqueio físico deste relaxante, pois é através dele que a convulsão provocada será monitorada pela equipe médica. Dessa forma, apesar da atividade convulsiva, a técnica permite que a maior parte do corpo esteja relaxado no momento do estímulo, sem os efeitos indesejados que o procedimento provocava antes, quando era feito sem os cuidados anestésicos.

A atividade convulsiva ocorre pela passagem de corrente elétrica por eletrodos posicionados na cabeça, que estimulam diversas áreas do cérebro. Com isso, acontece uma espécie de organização dos neurotransmissores e da atividade neural que está́ comprometida nestes pacientes. “É como um reset no cérebro, permitindo que ele ‘reinicie’ de forma organizada e correta", explica Spanemberg. A sessão de eletroconvulsoterapia dura cerca de 15 minutos.

Resultados robustos

Segundo dados recentes publicados em um artigo do The New England Journal of Medicine, cerca de 30% dos pacientes com depressão no mundo não respondem a tratamentos convencionais. Desta porcentagem, 60 a 80% deles terão uma resposta efetiva com a ECT. Além disso, boa parte desses pacientes entram em remissão completa de sintomas logo após as sessões. Para o psiquiatra, “esta é considerada uma porcentagem muito alta de resposta, com dados significativos e robustos”.

A epidemia de depressão no Brasil

De acordo com o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência desta doença na América Latina. Os dados mostram que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros. Em relação a todo o continente, o Brasil aparece atrás apenas dos Estados Unidos, onde segundo a OMS, 5,9% da população sofre de transtornos de depressão. Além disso, um estudo do Ministério da Saúde revela que nos próximos anos até 15,5% da população do país poderá ter depressão ao menos uma vez ao longo da vida.

Para agendar uma consulta com nossos psiquiatras e saber mais sobre a ECT - e se o seu caso ou de seus familiares é indicado para as sessões - ligue para 51. 3320.3000 (também whatsapp).