Psiquiatria intervencionista para tratamento de depressão resistente: mitos e verdades sobre ECT e Escetamina intranasal

Novas abordagens têm como foco tratamentos avançados para transtornos mentais

 

A psiquiatria intervencionista é um novo campo de atuação que tem como foco tratamentos avançados para transtornos mentais, utilizando técnicas específicas para promover mudanças intervenções terapêuticas no cérebro no tratamento de condições graves. Entre os diferenciais destes procedimentos, estão: os tratamentos de neuromodulação, oferecendo estímulos cerebrais diretos, contrastando com intervenções farmacológicas convencionais; o foco em transtornos graves, com ênfase em casos resistentes a outras formas de tratamento, como depressão grave, transtorno bipolar resistente ao tratamento e esquizofrenia de difícil tratamento; e uma abordagem personalizada, em que cada paciente recebe um plano de tratamento que considera a gravidade dos sintomas, a resposta a outros tratamentos e as preferências pessoais.

Existem diversas modalidades de tratamentos na psiquiatria intervencionista, com destaque para a eletroconvulsoterapia (ECT) e a aplicação do spray nasal do medicamento Cloridrato de Escetamina (Spravato). A ECT é considerada um tratamento minimamente invasivo, com alta taxa de eficácia em casos graves, enquanto a Escetamina traz um resultado mais rápido, com menos efeitos colaterais invasivos.

Para o psiquiatra do Hospital São Lucas da PUCRS, Dr. Lucas Spanemberg, é importante ressaltar que ambos os tratamentos são ferramentas valiosas no arsenal terapêutico da psiquiatria e a escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e baseada em uma avaliação completa do paciente. “A escolha entre ECT e Cloridrato de Escetamina depende de diversos fatores, como a gravidade da depressão, a presença de outros transtornos, a resposta a outros tratamentos e as preferências do paciente. É fundamental discutir as opções com um psiquiatra especializado, que poderá avaliar o caso individualmente e indicar o tratamento mais adequado”, explica.

 

Ainda tem dúvidas sobre as opções de tratamento da psiquiatria intervencionista? Confira abaixo o desdobramento de mitos e verdades que foram esclarecidas pelo dr. Spanemberg:


A ECT causa danos cerebrais irreversíveis

“É mito. O que se sabe, até hoje, é que os transtornos psiquiátricos não tratados adequadamente causam danos cerebrais a longo prazo.  Por isso, o melhor tratamento para preservar o nosso cérebro é o tratamento efetivo e a ECT é um exemplo, uma vez que o tratamento é muito efetivo para casos graves, protegendo a saúde do cérebro”, explica.

 

A ECT é dolorosa

“É mito. A ECT não é dolorosa, sendo realizada em um ambiente controlado com supervisão anestésica. Com isso, antes do procedimento o paciente é submetido a uma indução anestésica, em que é administrado um relaxante muscular e durante o processo há um monitoramento de todas as funções orgânicas”, destaca.

 

A ECT é um tratamento antigo e ultrapassado

“Aqui temos um meio mito e uma verdade. Sim, a ECT é um tratamento antigo, visto que ela começou a ser desenvolvida em 1930, no século XX. Ainda assim, é considerado um tratamento avançado e não é ultrapassado, pois ele foi modernizado ao longo dos anos e, atualmente, os procedimentos de ECT são certificados pelos órgãos reguladores de saúde”, pontua.

 

A ECT é eficaz e segura

“É verdade. A ECT é eficaz a ponto de os estudos mostrarem que é um dos tratamentos com maior efetividade entre todos os tratamentos na prática psiquiátrica.  A ECT apresenta índices de resposta de 60 a 80% dos casos, os mesmos que normalmente que são refratários e não respondem às terapias convencionais”, afirma.

 

A ECT pode salvar vidas

“É verdade. Costumamos dizer que a ECT salva vidas e é o que nós observamos na prática clínica diária, principalmente em casos mais graves, onde a ECT é considerada um dos tratamentos mais eficazes e rápidos para tirar os pacientes dessas condições”, completa. Em casos muito graves, é o único recurso capaz de reverter casos extremos de catatonia, por exemplo.

 

A ECT é um tratamento individualizado

verdade. O tratamento com ECT é individualizado, uma vez que há uma avaliação clínica, psiquiátrica e anestésica realizada antes do procedimento e todo o protocolo de tratamento é customizado para cada paciente”, disserta.

 

A escetamina causa dependência

“É mito. O medicamento que aplicamos no HSL PUCRS não tem um risco maior de dependência. Os estudos não mostram, até o momento, que há pacientes que estabelecem comportamentos aditivos com essas doses e nesse desenho de tratamento”, destaca.

 

A escetamina é perigosa

“É mito. A escetamina é originalmente um anestésico, mas em doses muito baixas,  que foram estabelecidas em estudos clínicos, o medicamento mostrou-se um antidepressivo potente e eficaz. A ingestão da escetamina pode ser perigosa caso seja administrada fora dos protocolos de tratamento, mas dentro daquilo que nós aplicamos, indicamos e acompanhamos no HSL PUCRS é um tratamento seguro”, ressalta.

 

A escetamina cura a depressão

“É mito. A escetamina não cura a depressão, uma vez que nenhum tratamento psiquiátrico cura a depressão, pois não falamos em cura e sim de controle, melhora, restabelecimento e recuperação de episódios depressivos. Isso se explica, porque a depressão é uma condição que costuma ser recorrente e que exige um acompanhamento longitudinal a longo prazo e que vai precisar de outras intervenções. A escetamina, neste caso, é um tratamento adjuvante, isto é, ela é acrescentada a um tratamento personalizado que vai se seguir depois do término do procedimento”, pontua.

 

A escetamina pode ser eficaz para a depressão resistente

“É, verdade. A escetamina é um tratamento eficaz para os casos de depressão que chamamos de ‘resistentes ao tratamento’, aqueles quadros que costumam não melhorar com pelo menos duas intervenções realizadas com medicamentos antidepressivos em dose e em tempo adequado. A partir do momento que há falhas terapêuticas e que as terapias convencionais não são capazes de entregar uma resposta clínica, pode haver a indicação desse medicamento", enfatiza.

 

A escetamina tem um mecanismo de ação diferente dos antidepressivos tradicionais

“É verdade. Uma das características desse medicamento que abriu as portas para o desenvolvimento de outras moléculas, é o seu mecanismo de ação inovadora. Por isso, ao contrário das medicações desenvolvidas desde a década de1950, que focaram muito na teoria monoaminérgica, na serotonina, na noradrenalina e na dopamina, a escetamina age no sistema glutamatérgico, que é um sistema que foi pouco explorado ainda para o tratamento da depressão, mas que se mostrou bastante promissor”, esclarece.

 

O tratamento com escetamina requer acompanhamento médico

“É verdade. O tratamento requer acompanhamento médico constante, uma vez que ele é realizado dentro do ambiente controlado. No HSL PUCRS, realizamos todo processo dentro do ambiente hospitalar que possui toda estrutura física e clínica para o bem-estar e a segurança do paciente, além de ter como retaguarda o Hospital em caso de efeitos adversos”, finaliza.

 

Conheça o Ambulatório de Psiquiatria do HSL PUCRS

O Hospital São Lucas da PUCRS é reconhecido por oferecer serviços de psiquiatria com os melhores especialistas, apoiados por uma infraestrutura completa. Por isso, a Instituição conta com o Ambulatório de Psiquiatria, que oferece um cuidado excepcional para pacientes que enfrentam desafios complexos em sua saúde mental. Além disso, o espaço conta com uma equipe altamente especializada e dedicada ao tratamento de condições como a Depressão Resistente ao Tratamento, com uma abordagem inovadora e eficaz. Saiba mais sobre o Serviço pelo telefone 51. 3320.3000 (que também atende via WhatsApp).