Saúde e envelhecimento da população negra: desafios e perspectivas

Médica residente do serviço de Geriatria do HSL PUCRS, Dra. Camila Medeiros, explica questões que impactam diretamente na saúde da população 

 

Em novembro, mês da Consciência Negra, comumente somos convidados a refletir sobre a história e as desigualdades enfrentadas pela população negra no Brasil. Outro aspecto fundamental para o qual precisamos olhar cada vez mais é a saúde e o envelhecimento saudável desta população. A médica residente do serviço de Geriatria do Hospital São Lucas da PUCRS, Dra. Camila Medeiros, explica que são muitos os desafios específicos que a população negra enfrenta ao envelhecer. 

“Ao longo da vida, as pessoas negras vivenciam diversas barreiras sociais e econômicas que impactam diretamente sua saúde. O racismo estrutural limita o acesso a serviços de qualidade, como educação, emprego e saúde, resultando em desigualdades que se acumulam ao longo dos anos. Essa realidade se reflete no envelhecimento, quando a população negra apresenta maior prevalência de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e doenças renais crônicas”, destaca a médica. 

A combinação de fatores sociais, econômicos e biológicos torna a população negra mais vulnerável a doenças crônicas e complicações, o que pode levar a uma menor expectativa de vida e pior qualidade de vida, de acordo com a especialista. Além disso, existem algumas doenças que a população negra apresenta de forma mais prevalente, como: a hipertensão, que normalmente é de difícil controle; a anemia falciforme, que é muito prevalente na população negra e que acarreta uma piora da qualidade de vida do paciente e pode fazer com que ele chegue na idade adulta com uma tendência maior a doenças; e a prevalência de obesidade e doenças renais crônicas, que impactam em mais quadros de morte cardiovascular para esta população.  

Como base de prevenção, a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos são formas fundamentais de prevenir doenças. Contudo, a especialista pontua que são campos onde também o racismo estrutural acaba afetando. “Podemos observar insegurança alimentar em alguns casos, pois os alimentos ultraprocessados costumam ser mais baratos do que alimentos saudáveis, como frutas e verduras. Além disso, a população negra possui, em alguns casos, uma maior carga de trabalho, por vezes longe da sua moradia, o que diminui o tempo de qualidade para a prática de atividades”, complementa.  

Para uma mudança neste cenário, é fundamental que a sociedade se mobilize para promover a equidade em saúde e garantir o direito ao envelhecimento digno para todas as pessoas. "Isso se dá por meio da implementação de políticas públicas, da realização de ações de prevenção, do incentivo às pesquisas acadêmicas e científicas que investiguem a especificidade da saúde desta população e da conscientização sobre os impactos e o incentivo a mudança de atitudes e comportamentos”, ressalta.