Open Health: o modelo que pode revolucionar os sistemas de saúde
Recentemente o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que o governo estuda editar uma medida provisória, ainda em 2022, para criar um sistema de “open health” inspirado na plataforma de “open banking”, sistema idealizado pelo Banco Central para dar maior transparência ao setor bancário.
Na prática, o que isso significa?
Vamos criar a seguinte situação: Imagine quando você vai à uma consulta médica e lhe é solicitado um exame, que você fez recentemente, mas não sabe onde está? Através do Open Health, o médico poderá acessar, após a sua autorização via token ou outra tecnologia.
Então você não precisará nunca mais levar exames prévios, laudos, imagens, prescrições, atestados e outros registros de procedimentos que feitos.
Uma outra situação que a tecnologia irá ajudar, é se você sofre um acidente, na emergência a equipe de atendimento identifica diversas questões, como por exemplo, alergias a um medicamento e dessa forma evita complicações.
E isso pode ajudar inclusive a agilizar as filas de emergência, porque não precisará passar por algumas triagens, eles terão acesso aos seus dados assim que forem autorizados por você.
Outro exemplo, poderia ser o seu interesse em trocar de plano de saúde e todas as perguntas sobre seu histórico de doenças pré-existente você pode autorizar em um click, garantindo a portabilidade em segundos, o que hoje leva mais de 90 dias hoje.
Tudo isso porque o Open Health oportuniza o compartilhamento dos registros eletrônicos de saúde, tanto dos atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), quanto os privados e convênios, onde a informação é propriedade do paciente e só tem acesso quem ele autoriza.
Para ter uma ideia do quanto é inovador e disruptivo, não existe em nenhum lugar do mundo algo neste sentido funcionando 100%. Existem iniciativas com algum sucesso nos Estados Unidos, na Europa, com destaque para Espanha e, no México. Existe no Brasil algumas iniciativas regionais, que posso citar o Pacto Alegre, com o Projeto da Saúde Digital, mas ainda não está em operação.
Eu, como gestora do BIOHUB, inovação em saúde da PUCRS, através do TECNOPUC, estou participando de um projeto piloto já em implantação, desenvolvido pela startup SISQUALIS. A startup conecta o prontuário eletrônicos do Hospital São Lucas da PUCRS, que utiliza o sistema SoulMV e o Hospital Ernesto Dorneles, que utiliza o Tasy. Um modelo que se validado, pode ser multiplicado para diversas outras instituições, pois são os principais ERPs dos hospitais do país, com padrões diferentes, conectados, gerando eficiência operacional, agilidade, melhor experiência aos profissionais de saúde, e entrega de valor consistente aos pacientes.
Então você deve estar se perguntando ‘E essa história de roubarem os dados na internet? Isso aconteceu com o SUS nas vacinas da Covid, não é?” Este é um
dos exemplos que este “mundo perfeito” ainda não virou realidade no Brasil e em nenhum lugar do mundo.
Por isso que só agora estes movimentos têm evoluído. Já existe tecnologia para isso! Um exemplo são as “blockchain ”, palavra que ficou famosa por causa das bitcoins e criptomoedas, mas na prática significa tecnologia de registros distribuídos (ledger technology ou DLT).
Em resumo, são redes de informações que suas transações são protegidas por criptografia, organizadas em blocos conectados uns aos outros. O que garante a segurança e sigilo que precisamos com dados de saúde, principalmente porque, depois de processar e autenticar/validar a transação, é impossível alterar ou excluir as informações.
Vencida a questão de risco de invasão, exclusão ou modificação de informações, ainda teríamos o desafio de conectar diferentes sistemas e aplicativos de softwares. Para isso existe outro conceito, a interoperabilidade, que permite a troca de informações entre vários sistemas, de forma que possam atuar cooperativamente fixando as normas, políticas e/ou padrões para e gerando resultados efetivos!
Depois, a discussão é a padronização de dados, mas já existem movimentos importantes neste sentido há alguns anos, como a Troca de Informação de Saúde Suplementar (TISS), Health Level Seven (HL7), Hospital Information System (HIS) ou Clinical Information System (CIS), entre outros.
A partir de um ponto de vista de governança, estes sistemas todos fazem um barramento ou cruzamento de dados, contribuindo de forma decisiva, em questões como LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), auditorias, controle de compartilhamento de informações do titular com outros sistemas e aplicativos. Dessa forma, é facilitado o controle do consentimento de acesso à informação, melhorando a portabilidade dos dados clínicos, além de permitir que se construa um ambiente (datalake) para consultas e análises de perfil epidemiológico.
Com isso, governos e planos de saúde podem analisar os dados de saúde das populações e planejar ações que ajudem a distribuir mais vacinas, planejar a compra e logística de remédios para doentes crônicos, e até mesmo criar pesquisas para doenças mais recorrentes, evitando epidemias.
Em resumo, o Open health é uma grande oportunidade, um caminho que o sistema de saúde do Brasil e do mundo precisa trilhar. Se o nome vai mudar, se outras tecnologias vão facilitar, isto não sabemos, mas nos próximos anos veremos uma revolução no sistema de saúde muito além da telemedicina.
*Diana Jardim é coordenadora de Inovação do Hospital São Lucas da PUCRS e do BIOHUB da saúde no Parque Tecnológico da PUCRS – TECNOPUC.